quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Futilidade.



Os dicionários relacionam futilidade com inutilidade. Útil e fútil são palavras antagônicas. Quem se dedica a coisa inúteis ou de pouca importância e lhes dá valor excessivo é, pois, uma pessoa que se ocupa do inútil. Pessoas fúteis são, portanto, pessoas superficiais. Supervalorizam o relativo e são incapazes de se aprofundar no que quer que seja. Vale o momento e o brilho daquela hora. Canonizam o acidental e encontram dificuldade de ir ao essencial. Vale mais o lacinho azul do que a qualidade e a durabilidade do sapato. Gastam numa noite de aplausos e elogios o que, depois, precisam pagar por 24 meses. Pagam 100 reais por um biquíni que na outra loja custava apenas 22,50, mas não era de grife. O vestido de noiva custou 5 mil reais e os noivos juntos ganham 1.600. Mas o que diriam as amigas se ela apenas alugasse? O cabeleireiro da esquina cobra três vezes menos e faz o mesmo trabalho, mas o outro é freqüentado por gente rica e famosa.

Há homens e mulheres fúteis. Há programas de rádio e televisão que trabalham o tempo todo com a futilidade. Há religiões que se preocupam com o fútil. O que é útil e importante para uma pessoa pode não ser para a outra. Por isso não temos o direito de chamar fútil a pessoa que considera importante, aquilo que achamos sem nenhuma utilidade. Mas há certamente um tipo de mensagem, um tipo de conversa e um tipo de pregação que o tempo todo acentua o fútil. Detalhes mórbidos da vida intima dos outros, da roupa íntima da atriz, do que o galã de Sunset Street lá em Hollywood teria dito à ex naquele baile. Quem está namorando quem, entre os famosos. É difícil não considerar fútil uma pessoa que gasta horas, preocupada com detalhes de cor e de lentejoula da roupa do outro que jamais viram ou verão em pessoa. O sujeito morreu e a pessoa fútil é capaz de descrever quem estava lá e que roupa estava usando. Para ressaltar o bom gosto do enterro.

Quando rádio, televisão e até pessoas religiosas conduzem longas conversa sobre botões, anéis, brincos, o detalhe em rosa do sapatinho da atriz no carnaval é porque há pessoas que gostam. Distrai as pessoas. E aí é que vale a pergunta. Até onde, até quando e até quanto se pode levar as pessoas à distração tarde após tarde, noite após noite, quando existe lá fora um mundo exigindo concentração e busca urgente de respostas?

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